segunda-feira, agosto 17, 2009

A não repetir

Este fim-de-semana tive uma experiência, no mínimo, diferente: fui a um clube de R&B (pelo menos é o que lhe chamam).
Fica situado no cu de Judas (neste caso, em território alemão), afastado de qualquer tipo de sinal de civilização e num edifício que mais parecia um celeiro. A área em volta do clube estava rodeada de BMW's e Mercedes totalmente kitados, deixando adivinhar que aquilo que iríamos encontrar lá dentro seria uma réplica daqueles videoclipes que eu não tenho paciência nenhuma para ver (ou seja, coisas como 50 Cent, Eminem, Nelly, etc).
Fomos lá com a ideia de tirar a limpo aquilo que nos tinham dito: "É um clube com profissionais a dançar R&B! Eles lá não brincam em serviço!". E como eu sou uma curiosa e até gosto de formar uma opinião própria, com base na experiência, em vez de dizer logo que não gosto, lá fui eu ver as estrelas da dança.

Aquilo era um mundo aparte.
Os tipos eram uns autênticos bichos enfiados em corpos carregados de massa muscular e vestidos à jogadores de basquetebol com o belo do cordão de ouro ao pescoço e anel de nem sei quantos quilates no dedo mindinho. Falavam uns com os outros na base do "yo ma nigga" e eram extremamente delicados com as damas. E claro, não pode faltar o boné pousado na cabeça (sim, pousado).
As mulheres eram uma imitação barata da Rihanna, Beyoncé e afins: vestidos extremamente curtos colados ao corpo, saltos mais altos que as minhas pernas, produção estudada ao pormenor e, como não podia faltar, falavam mal e porcamente com quem representasse concorrência. Uma delas chegou mesmo a virar-se para mim e dizer "you motherfucker bitch get out of my way", com uma cara de quem estava com uma crise de fígado. E porque me disse ela isso, perguntam vocês. Por nada, simplesmente apeteceu-lhe. O objectivo ali é arranjarem um qualquer motivo para iniciarem uma discussão para que o seu Nelly as vá defender.
A música era suportável durante uns 15 minutos. A partir dessa altura, as investidas do DJ a meio de cada música passaram de "olha que giro" a "o gajo deve achar que percebe disto". Aliás, se fechássemos os olhos por momentos, percebíamos que as letras das músicas ou incitavam à violência, ou às drogas, ou ao sexo. Ou seja, demasiado básico.
O que vi na pista de dança não foi o profissionalismo que tinham proclamado (se aquilo é ser profissional, eu sou a raínha da pista) mas sim uma versão rasca do que deverá ser um verdadeiro clube de R&B. E, como não podia faltar, pegaram-se duas vezes à pancadaria, vá-se lá saber porquê.
Talvez eu e a minha amiga estivéssemos demasiado sóbrias para aguentar tal espectáculo, mas a realidade é que chegamos a um ponto, olhamos uma para a outra, e dissemos "Bazamos?". Assim foi.
E não me venham com coisas, se é para ir a um clube de pretos (sem qualquer tipo de conotação aqui, é meramente um facto), que seja um daqueles com kizomba e homens suados que nos convidam para dançar coladinhos a eles. Gangsters armados em vedetas de videoclip, obrigada, mas não.

5 comentários:

Anónimo disse...

lol! erm.. lolololololololololol!

esqueceste-te do pormenor da "pála direita" (dos bonés..!)

Sobre a situação.. hoje em dia "R&B" já não é o que era há prai uma decada atrás.. desde que se lembraram de chamar "R&B" á treta hip-hop menos básica, deram cabo disso tudo.
Depois.. os comportamentos.. é uma pena que tantos tenham lutado por direitos e agora dá nisso..! Uma treta pegada!

B. disse...

Nunes, não diria melhor! Uma treta pegada!

LBV disse...

Estou a ver a cena ...
Mais me parece um cenário dos filmes do Quentin Tarantino, realizador cinematográfico que bastante aprecio, no que diz respeito à sua capacidade para retratar situações que eu, confesso, gosto de ver no cinema e não, na realidade ... é que, não sei se sou capaz de suportar, para além de certos limites, determinadas atitudes dessa gentalha frustrada que parece ter como ideal de convivência o insulto a bebedeira e a provocação daqueles que, por outros modos,se procuram divertir um pouco, na vida ...
"Bazaste"...e fizeste muito bem ...
Tens uma estória curiosa para contar, um dia, aos teus netos e, sei lá, inscrevê-la num livro de memórias que possas vir a escrever ...
Como é natural, não identifico esse tipo de assistência reles com a música do tipo R&B que, para além de agradável, está históricamente ligada a alguns movimentos, não violentos, de transformação social ocorridos nos EU.

GZ disse...

e neste momento levantei-me da cadeira e apludo este post...

Excelente a descrição... ;)

A coisas mesmo tristes não há?!

bj

B. disse...

GZ, por isso é que eu me pirei de lá... pra não fazer a mesma figurinha :-)