quinta-feira, agosto 13, 2009

Agora só pode melhorar

Quando disserem que os serviços públicos funcionam mal e porcamente em Portugal, pensem que o país não está sozinho. Também a Bélgica (neste caso, Bruxelas), é um excelente candidato a um posto tão cobiçado como este.

Há umas semanas atrás fui à Junta de Freguesia inscrever-me para ter um cartão de residente. O passo seguinte foi a visita do polícia lá a casa, para confirmar que eu realmente vivo onde digo que vivo. Entretanto, passadas duas semanas, recebo em casa o papel com o código de activação do cartão em causa, com o qual que devo dirigir à Junta, para levantar o mesmo. Foi o que fiz há dois dias atrás. Ora, após esperar 30 minutos na fila, dizem-me "je suis désolée". Não encontravam o cartão… Ok, vim-me embora frustrada, disposta a não gastar as minhas energias a dizer mal do serviço. Mas, desta vez, a coisa atingiu um limite.

Após ter recebido um telefonema da Junta, confirmando que tinham encontrado o cartão, lá fui eu novamente.
(Pormenor: para não esperar muito, tenho de lá estar entre as 7:45 e as 8:00… ou seja, TORTURA!).
Faço o ritual habitual (mostrar a papelada na entrada para que me digam a que gabinete me devo dirigir) e obtenho a minha senha. Altura para colocar os phones, observar as pessoas e aguardar a minha vez… pacientemente. Desta vez, "o pacientemente" estendeu-se por uma hora. Quando o meu rabo já tinha criado raízes na cadeira e o meu pensamento já tinha dado a volta ao mundo (não em 80 dias, mas em 60 minutos), chega finalmente a minha vez. Qual é a primeira coisa que a senhora me diz quando vê os meus papeis? "Ah, mas isto não é aqui… isto é para os não-europeus… a menina é Europeia por isso tem de se dirigir ali e esperar num outro gabinete". A minha expressão naquele momento variou entre o incrédula e o desolada. Nem sequer perdi um minuto a mandar vir. Naquele momento fez todo o sentido a pergunta que me esteve a pairar no pensamento durante a minha hora de espera: "porque raio está tudo a olhar para mim com um ar intrigado?!". Percebi, naquele momento, que tinha estado rodeada de africanos, peruanos, brasileiros, indianos, chineses e afins. Ou seja, eu era a única com ares de Europeia naquele gabinete. Ou melhor, o tipo que me direccionou para aquela fila de espera é que deve ter achado que eu não era Europeia (algo ao qual também já estou habituada, dado que por estes lados já me perguntaram várias vezes se sou da América Central).

Vou então para o gabinete correcto e sou imediatamente atendida. Espero que a senhora me active o cartão e é quando ela se dirige a mim com um ar de caso e me salta a tampa: o polícia esqueceu-se de lhe enviar um papel com a confirmação de que passou por minha casa, por isso ela não pode deixar-me levar o cartão. Aqui sim, é a altura em que só uma palavra paira no meu pensamento: "Fooooooooooda-se". Sugiro à tipa que telefone para polícia naquele momento e fale com o tipo que me visitou. Ela diz que não pode, que tem de ter o papel. Aí entra a Bárbara zangada em acção. Disse à senhora que tinha mais que fazer que passar a ir lá todos os dias até eles terem um papel que, por incompetência do polícia, não está onde devia estar! Nada feito, tenho de lá ir novamente, mas desta vez depois de telefonar e obter a confirmação de que o papel já lá está.

Como se não bastasse, vinha tão frustrada e indignada, que me enganei no eléctrico, fui na direcção oposta à que devia e fui parar à outra ponta da cidade. Aí achei por bem brindar-me com um táxi e calha-me um daqueles que quer conversa (mas que só fala Francês). Estive quase para lhe dizer "oh amigo, tudo o que não me apetece agora é puxar pela tola e praticar o meu Francês consigo", mas como o tipo se mostrou tão contente por poder falar do bacalhau, Porto ou pastel de nata que tanto gosta, eu até lhe dei um desconto.

Há dias assim, minha gente.

5 comentários:

Anónimo disse...

pois é..! marado, esse istema de mandarem a policia a casa.. ao menos por aqui basta o que eles adoram chamar de "comprovativo de morada", ou seja, uma factura de "Luz", água ou telefone, por exemplo..

quanto a mim, choque passava por iraniano, ou assim dum desses países alláh-ístas..!

GZ disse...

Afinal não é só em Portugal...

mas isso também pode ser explicado se o polícia e/ou o senhor(a) da recepção da junta forem portugueses ou luso-descendentes....

B. disse...

GZ... :-) Se fossem Portugueses provavelmente tinha arranjado companhia para estar no paleio durante aquela hora de espera e nem tinha reparado no passar do tempo :-) Afinal de contas, há que defender o que é nosso, principalmente quando nos apercebemos que cá fora não é assim tão melhor...

Nunes, isso do comprovativo da luz aqui não resulta por uma simples razão: a maioria dos estrangeiros estão aqui em casas arrendadas e as facturas de luz e electricidade estão em nome dos senhorios (pois o valor das despesas está incluído no montante que pagas por mês ao senhorio).

Anónimo disse...

é o que dizia.. não tens, não ganhas! =)

LBV disse...

Muito bem… concordo com essa conclusão … ineficiências em serviços públicos não existem só em Portugal … também as há, e muitas, nesse reino da burocracia que é Bruxelas …
Em Portugal, se te sentisses lesada ou maltratada poderias recorrer ao Livro de Reclamações, ao artigo de jornal (coluna do leitor …) etc., etc. e, até, acabar por “arriar a giga” …
Afinal és europeia e isso deveria, na circunstância, representar alguma vantagem … tu é que não te apercebeste dela …
Ao seres conduzida para junto de chinocas, indianos, escurinhos e outros animais racionais nascidos noutras paragens (nada de xenofobias !) e, portanto, sujeitos a outras formalidades … era caso para desconfiar … o facto de não estar ali por perto nenhum “portuga” (eles estão em todo o lado …) também era para desconfiar … (vê tu que até um comentador do Blog admite que possa estar um “portuga” por trás dessa forma de atender as pessoas ….)
Em conclusão … o polícia ficou com os olhos em bico e, a partir dai esqueceu-se de preencher o tal papel, esqueceu o seu papel, esqueceu as suas obrigações policiais (em Portugal, diríamos …ficou abananado) e, como resultado, quem acabou por se lixar foi o mexilhão que aqui se chama ... B
O que valeu foi a conversa do bacalhau, dos pasteis de nata, do vinho do Porto e …, mais não houve porque, de repente, se acabou a viagem …
Ora aqui está um episódio em que poderemos admitir que a culpada foi a cobra …