Nunca consegui compreender a obsessão nacional pela praia ao fim-de-semana. Percebo o prazer de dar um mergulho e de sentir o sol a torrar a pele durante algum tempo, mas não consigo encaixar no meu pensamento cartesiano o que faz com que milhares de pessoas se sujeitem a levar com duas horas de filas de trânsito para lá para se deitarem no último meio metro quadrado possível que resta no areal e passar o dia a lamber gelados e bolas de Berlim, antes de enfrentar mais duas horas de trânsito no regresso. Faz-me pensar naqueles casais que marcam na agenda um dia por semana para terem sexo. Assim, tal e qual, como quem vai à aula de body pump no ginásio do bairro. (...)
Margarida Rebelo Pinto, no seu blog
Não deixo de concordar com algumas das coisas que a autora deste texto refere (sim, sexo com hora marcada não será provavelmente o equivalente a emoção e impulso, coisas que devem estar, a meu ver, associadas ao sexo). Mas nem é sobre a questão do sexo que quero opinar (para variar um pouco...).
Há aqui uma ponta de "falta de chá" que não me deixa indiferente. Diria até, um certo gozo. A realidade, aquela dura e crua (e não a que nos tentam passar nas revistas cor-de-rosa), é exactamente isto: as pessoas que trabalham durante a semana e só têm a oportunidade de frequentar a praia ao fim-de-semana, estão certamente dispostas a esperar nas tais filas de trânsito para chegar a um pedacinho de areia. E têm toda a legitimidade para o fazerem. Praia, sol, bolas de Berlim e até os gritos das crianças, pertencem à categoria de coisas que não fazem mal a ninguém. Claro que, para os que têm outro estilo de vida e outro poder económico, isto parece absurdo (e é aqui que me soa mal o post da Margarida). "Quem corre por gosto não cansa", esta é que é a realidade. E certamente que também a autora estará disposta a algumas atitudes que, para muitos, serão absurdas, somente para conseguir o equivalente àquilo que, para a maioria dos Portugueses, é um fim-de-semana de praia.
2 comentários:
Bem... eu teria tendência para pensar nisso sob outras perspectivas:
- Primeiro, comentaria que nunca vi ninguém lamber uma bola de berlim. Mesmo que a imagem (duas metades de um todo redondo, com creme no meio, a serem lambidas) tem que se lhe diga;
- Segundo, não é estúpido ir à praia. O que é estúpido é enfiar-se num carro e passar horas lá dentro quase sem sair do sítio. Em Portugal temos tendência para evitar transportes públicos, bicicletas, andar a pé. Ou serão "eles" que têm tendência a nos evitar?...
Pessoalmente evito as horas de ponta nas praias. Muitas vezes, no Verão, chego lá às 17:30 ou às 18:00.
Por falar em sexo com hora marcada, ainda tenho alguns furos no meu calendário. Para marcações, contactem-me :P
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