No meu último passeio a Bruges cruzei-me com uma Brasileira enquanto fazia a viagem de barco pelos canais (e sim, fazer a mesma viagem 3 vezes no espaço de 2 meses já cansa). A senhora teria os seus 50 e poucos mas, como grande parte das Brasileiras, tinha tudo no sítio. Após meia dúzia de minutos a trocar galhardetes, deu logo para perceber que a senhora estava a passar por um processo de separação. O "seria muito bom arrendar uma casa aqui, mas somente acompanhada, sozinha não tem graça"; o "nossa como isso aqui é lindo! eu estive aqui faz 30 anos mas nem reparei como isto é lindo porque estava olhando para outra coisa, cê sabe..."; o "cê pode me tirar uma foto? é tão difícil eu ficar bem nas fotos com essa idade"... Tudo isto deu para entender que a mulher estava mortinha por dizer mal do ex-marido.
E então, bastou eu fazer um sorriso mais convidativo e caloroso, para a senhora confessar o que já não foi uma novidade: "eu estou me divorciando e vim para aqui para Europa fazer uma viagem para espairecer... é que a gente fica maluca com essas coisas, sabe? Eu sou de São Paulo e me quis mudar para Santos, para uma casa em frente ao mar... mas ele não gostou e aí a gente começou a discutir todo o dia e pronto... a gente acabou se separando".
E é das coisas que mais me fascina... o facto das pessoas se abrirem com estranhos e desabafarem assim. Sem esperarem nenhum tipo de julgamento, crítica ou ombro para chorar. Somente falar por falar. Comunicar.
3 comentários:
Esse é um fenómeno interessante que eu já tinha notado. Supostamente é com os amigos que se desabafa, mas há alturas em que uma pessoa sente encontrar mais conforto em alguém que desconhece justamente por essa razão. Os amigos conhecem, e mesmo que não façam parte do problema, por serem amigos e terem acompanhado não estão exactamente de fora. Têm alguma parcialidade. O que leva uma pessoa a inconscientemente procurar outras com quem desabafar, que estejam completamente de fora, que não saibam a história toda. Tem também um pouco a ver com a minha teoria das três verdades: A verdade real, a verdade que funciona e a verdade que a pessoa quer ouvir.
John, é exactamente isso. É-nos muitas vezes mais fácil confessarmos a um desconhecido o que nos vai na alma. E nem é porque esperamos ou não outro tipo de reacção. Penso que será mais porque sabemos, à partida, que a pessoa se limitará a ouvir. E o que falta é quem nos oiça. Quanto à tua teoria da verdade... é um pouco parecida com a minha teoria da mentira: "o oposto da mentira não é a verdade."
O facto de ser brasileira, normalmente alegre e extrovertida, enquadra-se totalmente no seu comportamento para contigo. Porém, fico sem entender a sua necessidade de que lhe “fizesses” uma foto, sabendo ela que sempre “se fica” mal na fotografia … será masoquismo !? ... no fim de contas, o que ela queria era conversa (tu dizes que era para te falar do seu divórcio … enfim, para desabafar … é possível … talvez seja apenas porque tu lhe inspiravas confiança, segurança (coisa que lhe estava a faltar naqueles momentos, devido aos “azares” da sua vida pessoal … ) e também, porque …conforme se vê na foto do teu blogue, bem poderias passar por brasileirinha …
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